Há que assumi-lo, fomos ao Perú sem o nosso Quetzal.
A um pouco menos de dois meses do final da nossa viagem (sim, porque nada pode durar para sempre…) damos por nós num dilema: continuar Perú acima em bicicleta ou deixar o Quetzal a descansar um pouco mais na casa da nossa amiga Isa em La Paz. Dois meses pode parecer muito tempo para o comum dos mortais que tem no máximo três semanas de férias seguidas ao ano, no entanto, na escala de tempo do ciclista, dois meses é claramente pouco tempo para se ver um país tão grande como o Perú decentemente. Além do mais, dois pontos de passagem obrigatória para nós, se impunham: a Cordilheira Branca e Chicama, localizados no centro e norte do Perú, respectivamente (bem longe um só outro). Assim sendo, e com vontade de terminar mais tarde a nossa viagem em La Paz, decidimos partir para uma ida e volta ao Perú em modo ultra-light: uma grande mochila e uma pequena mochila.
O primeiro ponto de passagem, ainda no final de Maio, foi a famosa zona de Cusco, com o seu mais-que-célebre Machu Picchu. Aqui chegámos desde La Paz, após 15 dolorosas horas de autocarro. Em toda esta zona estivemos acompanhados da Ema e da Apo, as duas tandemistas francesas que já havíamos conhecido e que deixaram também a sua montada em repouso uns dias.
Como toda a gente vai ao Machu Picchu directamente ou seguindo o cem-mil-vezes-calcorreado Inca Trail, decidimos que íamos fazer diferente. Alguém nos falou num tal trek do Choquequirao, o pseudo novo Machu Picchu, pouco visitado e ainda em exploração. Ok, porque não, vamos lá então ver essas ruínas alternativas. O que não nos explicaram, é que chegar às fantásticas ruínas implicava desníveis diários de 1400 m de descida e 1300 m de subida, num mesmo vale (portanto na descida já se vêem maravilhosamente bem todos os zigzags da subida…), infestados de mosquitos, ou pior, de mini-mosquinhas que picam, sem fazerem ruído algum, qualquer milímetro quadrado que não esteja 100% coberto de repelente durante uma fracção de segundo e que dão uma comichão danada durante dias ou mesmo semanas. Está explicada a falta de frequentação de tão inéditas ruínas!
Junte-se a um trek duríssimo sob um sol escaldante o facto de que eu e o Seb, em dieta por causa da vida que nos habita, não podermos comer açúcares, nem gorduras, nem lácteos, no fundo tudo o que permite uma sobrevivência digna num trek desta espécie.
Enfim, lá sobrevivemos e felizmente, graças à sugestão dum guia francês providencial, alteramos os planos dos últimos dois dias de trek, e em vez de chegarmos a Aguas Calientes directamente a partir de Yanama, decidimos explorar um antigo caminho Inca num outro vale, que desta vez sim, vale bem a pena!
Eventualmente chegamos a Aguas Calientes e enfrentamos com coragem a horda de turistas mochileiros, ricos, novos, velhos, um pouco de todo o mundo, e visitamos dignamente o Machu Picchu acompanhados de um guia, concluindo por fim que deixem-se lá de tretas por favor, o Choquequirao é boniro, mas o Machu Picchu é bem mais lindo, trabalhado e variado que o Choquequirao, e não é preciso ser comido vivo pelas mosquinhas nem subir e descer todos os vales da região para o poder apreciar.
Terminamos este capítulo da visita ao Perú em Cusco, provavelmente a mais bela cidade da América do Sul, pelo menos daquelas em que estivemos e estaremos nós.

























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